Não movo-me de mim
Subitamente torna-se a mim tão claro que
cada rosto para onde eu olhava
e que mantenho a olhar a cada encontro,
É(ra)
o meu.
Atrás uma da outra, em fila indiana,
passam
Escorrem por mim Marias
Josés
Franciscos
Elizeus e Mônicas
Pedros Andrés e Flávias
E não há,
além de mim,
ninguém.
Nada que não fosse meu
Nada que não eu reconhecesse como completamente familiar,
Ridiculamente símile a toda a realidade que se
mostrou e mostra em mim a cada instante:
Como que por detrás da máscara de este ou daquele
Quando cai, esta [após o dissecar de mim mesma quando olho-te bem e cada vez mais aprofundo-me em perceber o que há neste que também está a olhar-me]
Revela-se: fumaça,
e nada.
Há apenas eu.
Que de irada e completamente resistente a aceitar o que é a única realidade presente
E em vão tentando desfazer-me da teia que me prende a cada instante à verdade única constantemente fluindo de mim mesma
Não movo-me
Nem mesmo um milimétrico átimo de instante
De mim.
Apenas navego este ou aquele
rio de símbolos intangíveis,
Este ou aquele que me é irmão,
memórias que se mostram em meu estômago e se não trazem à consciência;
Ou, inda que se trouxessem,
De nada adiantaria.
Quando gozo, quando toco e deleito-me no
prazer de sentir-te, veludo, pétala,
Conforto de teus braços quentes e
seio bom
Sinto a mim, somente. Não te sinto. Não sinto o que sentes.
Projeto em ti meu afeto maternal.
Gozo em meu próprio gozo. Sinto minha própria pele.
Ou, se tomada por raiva te quero matar:
Também nada de ti pra mim existes;
O que és: toda minha emoção e
procura.
A todo tempo dilacero o mundo,
Reintegro,
Navego de mim a mim
Sem reconhecer a fragmentação perene onde habito:
mente, pensamento, (dis)percepção.
Quanto te compreendo
Quando te amo
Amo ninguém mais que a mim
Compreendo ninguém mais que a mim.
Pois que estas infinitas máscaras que se lhe
apresentam a mim a cada instante
Absolutamente nada mais revelam
Do que a mim mesma.