Cisão ou ensimesmeira
Ora, meu amigo
Dizes, tão completamente ser:
louco, insano, despossuído de qualquer sentido de ser
Que ponho-me a refletir sobre teu caso e
Brado: unicamente o que és
É um pensador excessivo;
Tanto, tamanho, que deixas de ser qualquer além daquilo coisa que
cápsula do
Eu
Ensimesmado eu
Euzinho, eu mesmo, euzíssimo
Eu
Eu
Eu
Eu
Pare! Pare agora! Bata essa tua cabeça de lata na maçaneta de barro que está ali no meio da praça.
Bata mil vezes
Bata até explodir tua cabeça em infinitos pedaços que se estilhacem por todos os mundos
Todos os teatros
Todos os circos
Todos os palcos
Todos os chatos, malucos, maltrapilhos, trapiches.
Depois reuna-as
Reúna cada destes pedacinhos marmóreos (ex)
Que agora desfizeram-se
NO
TO
DO
E tornaram-se uma nova obra perfeitamente esculpida de imperfeitos
retalhos de homem, do trapo,
da tristeza, alegria, fantasmagórica solidão que abriga o breu e nele goza,
O gozo, o traço, afetuoso laço;
O troço, qualquer deste braço que
Se lhe estendes, agora, aqui, outrora,
Como se lhe sempre esteve e que
por estares dantes tão completamente dentro de si
Não foste capaz de sentir.
Agora, meu amigo
Não existe em ti nada mais de sórdido
Caíste finalmente no abismo
Do devir
Deixar
-se
Ir
Sem rumo
Sem rota
Sem anancástica sede de
vitória
(ordem atroz)
E assim, sem que insistas em manter-se rijo
Direito, marmóreo, excessivamente
preocupado com a temperatura do
ocaso
Podes finalmente ser
tudo o que em cada átimo sútil do instante
(Dança etérea de cores e espaço)
está.