Cisão ou ensimesmeira

Ora, meu amigo

Dizes, tão completamente ser:

louco, insano, despossuído de qualquer sentido de ser

Que ponho-me a refletir sobre teu caso e

Brado: unicamente o que és

É um pensador excessivo;

Tanto, tamanho, que deixas de ser qualquer além daquilo coisa que

cápsula do

Eu

Ensimesmado eu

Euzinho, eu mesmo, euzíssimo

Eu

Eu

Eu

Eu

Pare! Pare agora! Bata essa tua cabeça de lata na maçaneta de barro que está ali no meio da praça.

Bata mil vezes

Bata até explodir tua cabeça em infinitos pedaços que se estilhacem por todos os mundos

Todos os teatros

Todos os circos

Todos os palcos

Todos os chatos, malucos, maltrapilhos, trapiches.

Depois reuna-as

Reúna cada destes pedacinhos marmóreos (ex)

Que agora desfizeram-se

NO

TO

DO

E tornaram-se uma nova obra perfeitamente esculpida de imperfeitos

retalhos de homem, do trapo,

da tristeza, alegria, fantasmagórica solidão que abriga o breu e nele goza,

O gozo, o traço, afetuoso laço;

O troço, qualquer deste braço que

Se lhe estendes, agora, aqui, outrora,

Como se lhe sempre esteve e que

por estares dantes tão completamente dentro de si

Não foste capaz de sentir.

Agora, meu amigo

Não existe em ti nada mais de sórdido

Caíste finalmente no abismo

Do devir

Deixar

-se

Ir

Sem rumo

Sem rota

Sem anancástica sede de

vitória

(ordem atroz)

E assim, sem que insistas em manter-se rijo

Direito, marmóreo, excessivamente

preocupado com a temperatura do

ocaso

Podes finalmente ser

tudo o que em cada átimo sútil do instante

(Dança etérea de cores e espaço)

está.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 09/04/2023
Código do texto: T7759622
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