Devaneios registrados enquanto observo os carros passando pela janela de vidro do café Domênica
Tépidas madeixas decaem sobre
meus olhos
Obscurecendo o soslaio de minha visão
D’ocaso, por onde percorrem, ávidos,
Cardumes de metal e miséria,
de vazio e prazer,
de glória e dejeto,
Véu da metafísica!
Desvario do silêncio!
Em vão esforço-me para agarrar esta
miragem,
torná-la sólida!
Fixá-la em verdade perene!
Escorre…
Que pensas tu, Fausto?
[fastio invólucro absorve-me,
em este vento, insólito vento de conjecturas]
Que pensas tu, Marta?
[teu suor que escorre molha meu rosto]
Porque olha-me e não mantém teu olhar no meu?
de que sígnio foges como infante
amedrontado?
Porque devora-me ao mirar a sordidez de
minh’alma,
impulso animalesco de sede e
fome e
vastidão?
Hei de perecer em pó em unhas!
como tu!
Tua carne, quente, árida, doce,
pulsa como a minha em gozo e
pena.
Tua dor, pungente miséria
sem forma; vácuo e éter,
de mesma sem-matéria é q’esta
espada a penetrar-me no
abandono,
na dúvida circinante,
na teia dilacerante do tédio.
Igualmente, entretanto
quando integro em essênci’A
sabedoria esta que desfaz e funde o dualismo,
ilusão de bem e mal,
Na íntima compreensão do
Um, espectral totalidade,
Êxtase serena da união com
todo o movimento, todo balanço e arco
[sutil sem razão, ou imagética simbólica ou
transmutação sensciente]
Olho-te,
Genuinamente enxergo-te como és,
em pueril esta inocência catártica,
Sem que haja você
Ou eu
E tudo o que há
É a profunda alegria
Felicidade suprema e amena
de Ser.