Devaneios registrados enquanto observo os carros passando pela janela de vidro do café Domênica

Tépidas madeixas decaem sobre

meus olhos

Obscurecendo o soslaio de minha visão

D’ocaso, por onde percorrem, ávidos,

Cardumes de metal e miséria,

de vazio e prazer,

de glória e dejeto,

Véu da metafísica!

Desvario do silêncio!

Em vão esforço-me para agarrar esta

miragem,

torná-la sólida!

Fixá-la em verdade perene!

Escorre…

Que pensas tu, Fausto?

[fastio invólucro absorve-me,

em este vento, insólito vento de conjecturas]

Que pensas tu, Marta?

[teu suor que escorre molha meu rosto]

Porque olha-me e não mantém teu olhar no meu?

de que sígnio foges como infante

amedrontado?

Porque devora-me ao mirar a sordidez de

minh’alma,

impulso animalesco de sede e

fome e

vastidão?

Hei de perecer em pó em unhas!

como tu!

Tua carne, quente, árida, doce,

pulsa como a minha em gozo e

pena.

Tua dor, pungente miséria

sem forma; vácuo e éter,

de mesma sem-matéria é q’esta

espada a penetrar-me no

abandono,

na dúvida circinante,

na teia dilacerante do tédio.

Igualmente, entretanto

quando integro em essênci’A

sabedoria esta que desfaz e funde o dualismo,

ilusão de bem e mal,

Na íntima compreensão do

Um, espectral totalidade,

Êxtase serena da união com

todo o movimento, todo balanço e arco

[sutil sem razão, ou imagética simbólica ou

transmutação sensciente]

Olho-te,

Genuinamente enxergo-te como és,

em pueril esta inocência catártica,

Sem que haja você

Ou eu

E tudo o que há

É a profunda alegria

Felicidade suprema e amena

de Ser.

Nicolle Ramponi
Enviado por Nicolle Ramponi em 09/04/2023
Código do texto: T7759619
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