Infância Silenciada
Como gritar: SAI para meu pai?
Quando perceber que o pertinho
Já não é mais apenas carinho?
Como correr travada com o medo?
Apavorada com a invasão à alma
Jogada num rio de culpa, de segredos
Lamacentos e nojentos, que escorrem...
Sujam meu corpo, minha dignidade.
Vem do meu pai toda essa maldade.
É amor, ele me disse quando me invade.
E grito, PARA, PARA... peço compaixão.
Porém, sobre mim, ele derrama seu tesão.
Eu vou contar, não aguento essa vida.
Vou te matar, ele me diz, em ameaça.
E é ali que descubro: com a morte passa.
Do meu cabelo o laço ainda infantil
Escorreu para meu ainda frágil pescoço.
E pouco a pouco a minha dor sucumbiu.