Na hora mais clara da noite
No escuro
Se aconchega a solidão
Mas é na hora mais clara da noite
Onde o sol está despedido,
E a cor do firmamento quase um pálido azul escuro
Que ressurgem as questões mais inquietantes e ao mesmo tempo, especiais.
Têm-se nas mãos uma flor e uma foice
Nos pés asas e o próprio despenhadeiro
E na boca o silêncio, a oratória.
Não se comporta com clássicos modos
A alma e o pensamento
Querem estar cheios de algo ambíguo,
Múltiplo, anormal.
Combina-se como numa festa onde
Todos não se vestem iguais
E ao sair do salão
Sabe-se ter tido alguma revelação imortal.
Na hora mais clara da noite
Se vendem nas ruas saudações
E nos becos onde é mais escuro
Cantam-se os ratos
E suas vozes são ouvidas por toda parte.
Quando ainda a completa escuridão não toma os céus violentamente
Esse modo prévio é enigmático
Seus instantes são breves
Mas a carga que eles tem é o suficiente pra deixar saudades.
E o ser humano se apercebe como tal
E os sinos antigos badalam incessantes
As sereias cantam cada vez mais sedutoras
Os colares de pérolas estão sendo furtados
As crianças começam a querer cochilar.
Nessa hora mais clara o futuro é mais que incerto
As sensações são permeadas pelos quereres, tantos, inúmeros, indefinidos...
E então escurece bastante.
E então se achega o estar realmente só.
As casas estão em repouso
Quase não se ouvem diálogos
Enfim amanhã se saberá novamente
Durante a hora menos escura da noite
Que quase tudo é possível
E que o impossibilitado é esperança
As luzes artificiais são o que mascara
A solidão real e total.