Na hora mais clara da noite

No escuro

Se aconchega a solidão

Mas é na hora mais clara da noite

Onde o sol está despedido,

E a cor do firmamento quase um pálido azul escuro

Que ressurgem as questões mais inquietantes e ao mesmo tempo, especiais.

Têm-se nas mãos uma flor e uma foice

Nos pés asas e o próprio despenhadeiro

E na boca o silêncio, a oratória.

Não se comporta com clássicos modos

A alma e o pensamento

Querem estar cheios de algo ambíguo,

Múltiplo, anormal.

Combina-se como numa festa onde

Todos não se vestem iguais

E ao sair do salão

Sabe-se ter tido alguma revelação imortal.

Na hora mais clara da noite

Se vendem nas ruas saudações

E nos becos onde é mais escuro

Cantam-se os ratos

E suas vozes são ouvidas por toda parte.

Quando ainda a completa escuridão não toma os céus violentamente

Esse modo prévio é enigmático

Seus instantes são breves

Mas a carga que eles tem é o suficiente pra deixar saudades.

E o ser humano se apercebe como tal

E os sinos antigos badalam incessantes

As sereias cantam cada vez mais sedutoras

Os colares de pérolas estão sendo furtados

As crianças começam a querer cochilar.

Nessa hora mais clara o futuro é mais que incerto

As sensações são permeadas pelos quereres, tantos, inúmeros, indefinidos...

E então escurece bastante.

E então se achega o estar realmente só.

As casas estão em repouso

Quase não se ouvem diálogos

Enfim amanhã se saberá novamente

Durante a hora menos escura da noite

Que quase tudo é possível

E que o impossibilitado é esperança

As luzes artificiais são o que mascara

A solidão real e total.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 06/04/2023
Código do texto: T7757849
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