Telefone

Cansada de homens e garotos

apaixonados demais pelos próprios egos

para serem capazes de amar

uma mulher,

ela bate na minha porta

mais uma vez.

Talvez seja a minha pitada saudável

de auto-ódio

que a faz retornar,

ou talvez seja

uma queda inconsciente

por casos perdidos

da parte dela.

Conversamos

e esvaziamos algumas garrafas

antes de tirarmos

as nossas roupas.

Deixamos nossas cascas no chão

antes de nos unirmos,

no único lugar

onde conseguimos fazer algum sentido.

Eu a toco,

por dentro,

e me encaixo.

Me encontro,

entre o prazer

e o incômodo,

de calçar um sapato

no pé errado

numa noite fria.

É melhor que estar descalço,

mas lá no fundo eu sei,

que eu poderia ir mais longe,

de outro jeito.

Eu me retiro bruscamente,

ela se vira de frente,

e eu aperto o seu pescoço...

Ela sorri,

como se soubesse exatamente

o que se passava pela minha cabeça.

ela vira a cabeça para trás

e eu aperto um pouco mais.

Suas pernas me puxam mais pra perto

num abraço quente

e desesperado

e eu me enfio novamente,

no fundo daquela loucura.

Penso nas pessoas

que nasceram e morreram

sem viver algo assim,

Penso nos outros,

esbanjando relações perfeitas

fotos

e histórias

pra puxar pela memória.

Não tenho nada

Pra mostrá-la,

nada pra contar

de diferente

do último encontro,

e acabamos ofegantes,

do mesmo jeito

que sempre foi.

Um carro logo chega,

e ela vai embora,

e eu não sei que horas são,

ou se ela vai voltar

um dia.

Talvez... Talvez ela venha.

fora do horário

comercial,

fora da rotina,

da semana.

Mas enfim,

me sobra pouco tempo

pra esperar,

quando não me deixo parar

pra pensar em tudo

que não vivemos.

Me resta apagar

as mensagens,

e guardar um pouco

do meu amor,

pra próxima vez,

pra próxima noite de calor,

quando o telefone

voltar a tocar.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 06/04/2023
Reeditado em 06/04/2023
Código do texto: T7757731
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