Telefone
Cansada de homens e garotos
apaixonados demais pelos próprios egos
para serem capazes de amar
uma mulher,
ela bate na minha porta
mais uma vez.
Talvez seja a minha pitada saudável
de auto-ódio
que a faz retornar,
ou talvez seja
uma queda inconsciente
por casos perdidos
da parte dela.
Conversamos
e esvaziamos algumas garrafas
antes de tirarmos
as nossas roupas.
Deixamos nossas cascas no chão
antes de nos unirmos,
no único lugar
onde conseguimos fazer algum sentido.
Eu a toco,
por dentro,
e me encaixo.
Me encontro,
entre o prazer
e o incômodo,
de calçar um sapato
no pé errado
numa noite fria.
É melhor que estar descalço,
mas lá no fundo eu sei,
que eu poderia ir mais longe,
de outro jeito.
Eu me retiro bruscamente,
ela se vira de frente,
e eu aperto o seu pescoço...
Ela sorri,
como se soubesse exatamente
o que se passava pela minha cabeça.
ela vira a cabeça para trás
e eu aperto um pouco mais.
Suas pernas me puxam mais pra perto
num abraço quente
e desesperado
e eu me enfio novamente,
no fundo daquela loucura.
Penso nas pessoas
que nasceram e morreram
sem viver algo assim,
Penso nos outros,
esbanjando relações perfeitas
fotos
e histórias
pra puxar pela memória.
Não tenho nada
Pra mostrá-la,
nada pra contar
de diferente
do último encontro,
e acabamos ofegantes,
do mesmo jeito
que sempre foi.
Um carro logo chega,
e ela vai embora,
e eu não sei que horas são,
ou se ela vai voltar
um dia.
Talvez... Talvez ela venha.
fora do horário
comercial,
fora da rotina,
da semana.
Mas enfim,
me sobra pouco tempo
pra esperar,
quando não me deixo parar
pra pensar em tudo
que não vivemos.
Me resta apagar
as mensagens,
e guardar um pouco
do meu amor,
pra próxima vez,
pra próxima noite de calor,
quando o telefone
voltar a tocar.