Perfume do Cotidiano

Num gesto

Num sorriso

Num olhar

Nas folhas que dançam soltas no chão compondo seus caminhos

Na doçura das cores que colorem ar que se torna menino enamorando da lua

No silêncio pulsante que grita e sussurra ao vento com seus desejos esfuziantes

Ela há de surgir com firmeza, com delicadeza, com determinação e com Ternura

Efêmera

Sólida

Na solidão da pedra que cheira solidez e plenitude

Nos cabelos negros com suas ondulações do homem que dança só com a beleza das cores em ventanias e dos cheiros da chuva

Da negra pele, da negra nudez que arrepia com suavidade e ousadia

os meus poros com sonoridade tenra, morena

colorindo o meu corpo nu tostado pelo poder da poesia que ora se evidência do florescer desse instante ímpar, singular, distinto e transgressor

E no vazio de uma ausência permanente como o sol a arder

seu destino no paladar do tempo

No cheiro da prece que reza com a Caatinga com seu ritmo de leveza que embriaga e seduz

Que faz embelezar com a certeza de que a poesia em tudo está - plena, serena e fugaz a cada olhar

Na Flor umedecida de orvalho

Ela há de surgir tenra

Como sempre ligeira e eficaz

Pertinente e voraz

No assobio do vento

Na asa da saudade

Na textura das nuvens

Ela sempre há de surgir

No perfume do cotidiano

no cheiro das horas

No odor do tempo

Ela sempre há de surgir

Na pétala que dança serena

Na coreografia sonora, na perenidade das cores sutis

Nas sombras de uma saudade

nítida da alegria de ser

No oco do tempo

No vácuo da cor

No pulsar de cada olhar

Na beleza da alegria

da explosão de uma lágrima

da dor e do prazer da existência

A sua presença fulmina ligeiramente qualquer tédio e qualquer força de mediocridade

No sorriso do amanhecer

No aroma do dia que se despede e anuncia

Ela há de surgir com a beleza de o que ela realmente é

No grão, na semente,

no chão, na folha, no pingo d'água, na pele, nos poros

Até num Sorriso mutilado, amputado

Ela pode surgir como alegria

Perante a palidez da tez lunar que clareia com eficácia o sorriso do entardecer

Ela sempre surge!

No perfume da leveza

que emana da pureza

do sagrado namoro

entre amigos-irmãos

em que há o espanto

do calor de Deus,

é que o Poético se embriona

e se alastra e se pulveriza

com o viço frescor da beleza

que se desmancha em sorrisos plácidos, cálidos, cândidos e bonitos!

Ela há de surgir - Sempre!

Sem a repugnância

de uma severidade

que tolhe e angustia,

mas com a força da humanização de homens anêmicos e desvitalizadas

pela ausência de fruição

dos instantes que latejam ardentemente Poesia

Ela há de surgir - sempre!

Estrondosa como o sopro de uma tempestade de sonhos

e delírios carregados de leveza

do raiar de um novo dia

que anuncia o festejo

da epifania da chegada

da nobreza que faz arder

o nascer da poesia sem muros, sem armários, sem livros

e sem lucros e sem medos

Sem se enxovalhar com as nódoas de lucros

que se enraízam na podridão

de acúmulos frios, sombrios

e miseráveis

E sem a razão que a tudo esteriliza, escraviza e maltrata

Ela há de surgir

Ela há de vir a ser

sem hora marcada

sem data pra o instante de sua chagada

Gritemos com a alma esvaziada, lavada dos agouros e das feiúras do nosso dia a dia

que mulheres e homens

se entortam e se curvam

e prostrados se amiudam

Como cegos e mudos

diante da estupidez crua e calculista de esterilizar os seus dias com a teimosia de mulheres e homens que se nutrem como corroedores

e da frieza de instantes sem a Boniteza da inutileza de tudo que exala Poesia

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 02/04/2023
Reeditado em 04/04/2023
Código do texto: T7754674
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