DESMEDANDO

Medo por vezes é instante, talvez farsante,

é ramo de uma quimera que veio de longe pra ficar.

É voz pausada, calosa, cheia de armadilhas,

e fagulhas que fazem a alma titubear,

Medo é vento esgarçado, arguto,

anda com passos de dono do ar,

dorme no travesseiro do dever cumprido.

Medo é fardo raso, imenso de fagulhas e engodos,

traz no bojo da sua fé as ancas outonas do inimigo,

faz nossos sonhos bagunçarem o ventre materno sem cansar.

Medo é abraço atroz, verruga traiçoeira,

sempre que chega desarruma o lençol,

sempre que vai deixa pegadas que nunca esfriam de vez,

Medo é cigano, é gozo encardido, é beijo escasso,

infestado das nossas ferrugens, das nossas embromações,

é digestão à revelia, suor desafinado, pasto esquecido,

quando quer se fazer de morto é que mais se diz vivo.

Medo é pele rouca, paixão órfã, Deus sem cabresto,

nas léguas infestadas da nossa história arremata seu legado,

nas fronhas que ainda iremos atracar refaz sua morada,

no coração que tentaremos ser fará seu canto de alforria,

talvez a nossa mais infame dor.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 30/03/2023
Reeditado em 30/03/2023
Código do texto: T7752312
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