A melhor companhia

É na solitude que me crio e me recomponho.

Vivem em mim todos os silêncios.

Nasci só e reconheci-me só, desde o começo.

Pequena, sorvia com gosto os interstícios entre as interações.

Afastava-me e observava o burburinho.

Ainda hoje tenho olhares de espectadora,

apartada da cena que se desenrola à frente.

Assim, fui terapeuta de mim mesma,

alternando a cadeira e o divã.

Estar só não me assusta, absolutamente.

Convivo em paz comigo mesma,

temos longos e silenciosos diálogos

nos meandros da mente.

Talvez daí decorra uma autoestima realista mas poderosa

que legitima em si esparsas qualidades

e identifica múltiplos defeitos da minha natureza humana.

Vivencio a jornada da solitude,

desapegada do mundano

mas ainda muito distante da luz.

Resta-me manter-me caminhando e aprendendo.

Para isto, a solitude é uma Mestra perfeita.

Na solitude, basto-me.

Ao bastar-me, consigo deixar abertas as portas para que outra solitude marotamente espie e,

quem sabe, em si também se reconheça.

Reconhecendo-se, talvez convide-me a dançar.

Não o fazendo, danço só, leve e absorta nos rituais dos solstícios e equinócios.

Neles, transbordo toda a alegria de estar viva, de olhos bem atentos e abertos.

Sozinha, cultivo a minha inteireza.

Não estou à procura de metades.

Genuinamente, sinto-me em paz.

Só há paz quando amamos a quem somos, como somos, porque somos o que somos....

Nasci só e reconheci-me só, desde o começo.

Vivem em mim todos os silêncios.

E na solitude, me crio e me recomponho.

Lyzzi
Enviado por Lyzzi em 28/03/2023
Reeditado em 28/03/2023
Código do texto: T7750683
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