Seguro da Insegurança
Que medo bobo é esse
de abrir as próprias certezas
e deixar sangrar o sensível,
multilar a máscara alegre
para que caibam as rugas
cultivadas no cerne do eu,
abrir-se como pétala
arrancada pelas mãos lisas
de uma criança entristecida,
chorar como quem ama
aquilo que a existência
há tempos já sorveu.
Olharão para sua elegia
(se olharem, é claro)
com indiferença.
E o coração, exposto ao mundo,
padecerá como um peixe
estrangulado pelo ar.
Mesmo assim, que medo bobo
é esse de se expor
para uma plateia silenciosa,
para a sua penitência, criança,
não encontrará amparo
na plateia ou em qualquer outro lugar.