O Ser da Curva

Enrijeceram as linhas

e tão retas ficaram

Endureceram as linhas e tão secas ficaram

Asfixiaram as linhas, mataram - lhe as suas curvas

Mutilaram as linhas e sufocaram sua leveza

Cansado das linhas retas,

que tanto desertos me causaram,

Mesmo não faltando chuva, sereno ou orvalho !

Porque os desertos eram ásperos, secos, ríspidos, nítidos, íngremes e áridos

Me sufocam as retidões

Me asfixiam as linhas

sem os enamoramentos

com os delírios das curvas

sem os perigos das curvas,

Sem a poesia das curvas

Me sufocam as miopias das retidões obsessivas por razões

perdidas nas prisões de suas conclusões e certezas

Me asfixiam as cegueiras das linhas retas que adequam ao inadequado

Estéreis e Estreitas são as linhas que não fertilizam seus úteros sem sêmen de poesia

Que não nutrem em seus ventres

o germen da delicadeza

Que não irrigam em seus seios as sementes dos afetos

Duramente secas,

duramente rígidas, as linhas retas perecem asfixiadas na dureza cega de caminhar em linhas retas, na teimosia tonta e oca

Me sufocam!

Me subtraem

Me repelem

A retidão dura, mesquinha e avarenta

Que tudo alastra e penetra

Me adoece a predominância das linhas retas

Me enamoro das linhas curvas,

elas me emitem a beleza , dançam com as cores dos ventos

Fluem como pétalas soltas ao acaso

Colorem como as flores nuas e densas

com seu destino e sina algemados em curvas - ânimos

onde urram e gritam os versos

leves como o raiar das manhãs

As atitudes sisudas, toscas

Os pensamentos ocos, ocos, ocos

As ideias funestas, sem cores

Ancoradas nas correntezas

abruptas tórridas secas

São as entrelinhas da tortura e da inércia,

da disruptia,

da agonia

E da anemia oriunda da escassez dos sonhos ausentes

na Vastidão das linhas

Duras, Retas, Cegas

Me Embriago

com a Beleza das linhas onde as curvas gestam Sonhos

Parem Poesia

Gozam da agonia

E da rebeldia de serem livres

Porque dançam ao acaso marcado pelos sons e tons

da melodia que o futuro esculpido no agora se principia e anuncia a brevidade do eterno e sabedoria do tempo

E semeiam Bonitezas

E pulverizam Bonitezas

E irradiam Bonitezas

Em terenos onde o delírio comunga Utopia com a veracidade do clarear da luz de novos dias em plena harmonia

com os poros do sagrado que pulsa em cada coração -flor

rasgando a sua canção da Inteireza como um vendaval

multicor

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 26/03/2023
Reeditado em 15/04/2023
Código do texto: T7749178
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