E Que Eu Morra Encharcado
Se um dia eu morrer
Que eu morra encharcado
pelo súbito susto de um verso se traduzindo num instante
desprovido do intento de se tornar útil
Que eu pereça vislumbrado, assustado e atônito perante o abrir-se de uma flor irradiando sua ousadia misturando a alegria de seu perfume colorir
o infinito momento que se desdobra onisciente
Que finalize meus dias diante da absoluta escuridão noturna com uma miríade de estrelas dançando e florindo a noite com sabor de euforia
Que eu morra num instante onde passarinhos teçam seus cânticos como poemas ecoando no infinito mundo sujo de vida !
Não quero morrer nunca
Mas, caso aconteça, que eu morra de overdose da contemplação dos ventos compondo seus versos perante a presença de vaga - lumes freneticamente alumiantes nas noites quentes de verão
Que eu nunca deixe de fruir
um deserto de flores
se alastrando no infinito
com todas as cores, com todos os tons, com todos os cheiros
Não posso morrer
sem antes tingir o meu coração com uma overdose de beleza
ao sentir os cheiros das flores com suas peles únicas,
que surgem rompendo
a desmesura na atmosfera Caatinga nos Sertões tão bonitos
Que Deus me permita sugar com meus poros
o perfume das estrelas
com seu ritmo singular,
tão bonito
Quero morrer asfixiado com um susto da cor azul dos mares tantos
Quero partir com meu sorriso largo perante o ribuliço
de pedras escrevendo com suas andanças e cantando seus poemas à nobreza de tempos
raros de tão nobres
Quero morrer embriagado, com a alma inundada,
com meus músculos munidos
e com meus poros transbordando
o gozo de sugar do meu cotidiano
a alegria de sorrir
com o êxtase de pulsar
respirando o prazer de morrer perante o pleno exercício
de morrer embriagado
com os verbos únicos que tremulam os alicerces de minha existência