Insistente existência

Sempre ouço uma música triste

Quando tenho de escolher qual caminho tomar.

Se o reflexo impele a própria alma

Eu sei o que esperar das minhas queixas frente ao rio

em que banhava meu corpo, meu ser, meu espírito -

É como se a necessidade em afogar-me por instantes

E retornar, sem ar, peito pesado

Viciasse meu exterior suprindo a dor e o prazer que

me faltava, as esterilidades consagradas, os feitos nós

nas cordas vocais se ainda quero falar.

Ouço mais que posso escutar

A vida encarrega-me, destitui o que teria,

E alega meu desmerecer.

Quando as folhas das árvores caírem todas

Saberei que o tempo chegou.

Cultivo plantas em mim e as partes que crescem demais

Não tenho coragem de as podar.

As camadas todas das visões

Desmascararam o que se perdeu,

entre nuvens abertas e fechadas há uma luz bela

e incessante que passa e encontra

meu corpo prostrado a recebê-la.

Adentrando o medo e o satisfazer, que espreitando

a natureza concedo andante termo,

caindo no entanto e levantando sem noção do lugar onde

me atrevi estar: sonhos nas estações do desespero

Regando as as árvores frutíferas da razão e nutrir adubo

às almas regressas em um não lugar.

Frutos, quão doces e alterados a árvore que sou produz!

Entre os desencantos da alma saberei onde

demarcar-me o território, na vastidão dos reinos do

pensamento perdi as rédeas das estações.

Criações, denúncias e temores,

Andar pelas alamedas mágicas

E entrar no rio da dor - quem se banha nesse rio

deixará lágrimas nele, como palavras soltas

nos compassos de músicas terrivelmente belas,

apropriando de sentir o que temo, no que nado

O que sou.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 24/03/2023
Código do texto: T7748170
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