Insistente existência
Sempre ouço uma música triste
Quando tenho de escolher qual caminho tomar.
Se o reflexo impele a própria alma
Eu sei o que esperar das minhas queixas frente ao rio
em que banhava meu corpo, meu ser, meu espírito -
É como se a necessidade em afogar-me por instantes
E retornar, sem ar, peito pesado
Viciasse meu exterior suprindo a dor e o prazer que
me faltava, as esterilidades consagradas, os feitos nós
nas cordas vocais se ainda quero falar.
Ouço mais que posso escutar
A vida encarrega-me, destitui o que teria,
E alega meu desmerecer.
Quando as folhas das árvores caírem todas
Saberei que o tempo chegou.
Cultivo plantas em mim e as partes que crescem demais
Não tenho coragem de as podar.
As camadas todas das visões
Desmascararam o que se perdeu,
entre nuvens abertas e fechadas há uma luz bela
e incessante que passa e encontra
meu corpo prostrado a recebê-la.
Adentrando o medo e o satisfazer, que espreitando
a natureza concedo andante termo,
caindo no entanto e levantando sem noção do lugar onde
me atrevi estar: sonhos nas estações do desespero
Regando as as árvores frutíferas da razão e nutrir adubo
às almas regressas em um não lugar.
Frutos, quão doces e alterados a árvore que sou produz!
Entre os desencantos da alma saberei onde
demarcar-me o território, na vastidão dos reinos do
pensamento perdi as rédeas das estações.
Criações, denúncias e temores,
Andar pelas alamedas mágicas
E entrar no rio da dor - quem se banha nesse rio
deixará lágrimas nele, como palavras soltas
nos compassos de músicas terrivelmente belas,
apropriando de sentir o que temo, no que nado
O que sou.