Prelúdio

I

Eis meu prelúdio, caros leitores

Onde já apresento minha maldição

Que se sustenta em meus amores

Que dilaceraram meu coração.

II

Sou sim, amante e maldito

Sou amante também da tristeza

Sou quase que um infinito

E maldito, por natureza.

III

Tenho alma satânica por demais

Tenho o sangue como alimento

Um coração que se desfaz

E uma alma em tormento.

IV

E se falando em tormento

Eis o que me faz o dia-a-dia

Há momentos em que não aguento

E me carcomo e agonia.

V

Se sou poeta, já não sei

Talvez um melancólico jovem

Mas escrevo tudo que passei

Para os sofrerão, sofrerão e sofrem.

VI

Sofrimento este, da alma

De alguém que não chora sem razão

Tristeza boa que me acalma

E, assim, acalma meu coração.

VII

Tenho meus crimes e meus vícios

Pra mim, mais que necessários

Sou mais morte do que vida

Sou mais corvo que canário.

VIII

Meus vícios são minha vida

Minha poesia é que sou eu

Meu amor é que me intriga

Sou alguém que já morreu.

IX

Eis então, meus caros leitores

Versos de um poeta sozinho

Que tem como vícios e amores

Mulheres, lua cheia e um bom vinho.

X

Outro vício que carrego

É pela música, caro leitor

É a alma do artista, descarrego

Nela todo o meu pudor.

XI

Eis então, a minha maldição

Que é o que sou, o que faço

Com toda calma, com razão

Nem mesmo causo estardalhaço.

XII

Poucos amigos, mas estes pocos

São - E que ninguém duvide! - meus irmãos

Somos fiéis e somos loucos

Discípulos da maldição.

XIII

Minha fala é precária, pouco falo

Mas escrevo do que sei

Se é preciso, logo me calo

Pois do gosto amargo já provei.

XIV

Maldito, poeta, amante

Eis, em suma, o que sou

Triste, melancólico, uma alma

De alguém que muito amou.