O Quadro
Em tempos longínquos\
Saia bem cedo\
Com meus colegas\
Num sábado que me era dispensado\
Como não tínhamos brinquedos\
Nos juntávamos a matutar\
Com o que iriamos brincar\
Depois de uns poucos minutos\
De uma folha qualquer\
Como Dumont\
Fazíamos do sonho a arte\
E arte a nos realizar \
Com linha e papel\
Inventávamos a curica\
Se não houvesse psica\
Com qualquer vento\
Estávamos com elas a enfeitar o ar\
Sobre os fios da Celpa\
Iam subindo num terral\
Entre uns poucos prédios\
Passavam do açaizal\
Como num quadro de Tarsila do Amaral\
Descaindo a corrente ou lipasa\
A curica ficava estampada no imenso céu azul\
Assim, sem querer admirávamos aquela janela\
Aquele momento\
Dali da nossa favela\
Era crucial\
Porque tanto eu como os meus\
Naquelas matinais\
A rirmos a toa\
Sob uma sensação tão boa\
Erámos mais do que fenomenais\
Erámos crianças\
Num tempo que não volta mais\