A Máquina do Tempo
O couro dos sapatos envelheceu calejando meus pés,
e o reflexo salobro da pele cravada de pústulas de medo,
onde as borboletas pousavam em rodopiar misericordioso
gritava insensatez no ventre da própria morte!
A morte não é cruel! Cruel é o tempo do caminho até à morte!
Mas a vida tem muitas outras portas onde desfragmentei os
nós dos dedos gritado pela generosidade da intemporalidade.
As lágrimas correm incomodando as feridas do meu rosto
como se me afogasse entre as correntes de um mar qualquer.
O eco embrulha a voz asfixiada pelo canto das sereias endiabradas
como crianças que correm atrás umas das outras com pura inocência.
Do que me valeria ter uma máquina do tempo?
voltar ao passado é reviver memórias
ir para o futuro é sustentar sonhos.
Meu quarto está escuro…frio…sombrio…
Onde depois de ti a única brancura é a da cal sobre a parede de taipa.
O tempo é funesto neste outro mundo morto sem ti
onde não sei ver coisas simples como a água e como a luz.
Fujo...ou tento fugir! Acordando sempre na cruz com as mãos trespassadas!
Meus olhos sanguentados viram os pássaros caírem sem sentido.
Sob o olhar do velho vagabundo que caminhava descalço
sobre os espinhos repletos de imparcialidades.
Não sabia que o tempo cava o meu próprio túmulo!
Um caminho escuro e duro! Toma meu velho!
Far-te-ão mais falta a ti…o couro é velho e faziam-me calos!
O tempo é-me intemporal.