Paixão! Paixão! Paixão!
Chilreavam os primeiros pardais
e nas lamparinas crestavam pavios.
No estendal madrugador ela rodopiava
com uma grinalda fresca parida na terra
quente e abraçada nos cabelos desatados...
Percorria religiosamente o calendário
na névoa cor de fogo a caminho da padaria.
Trazia o pescoço nu de joias e sorria a todos
os salamaleques em movimentos das cartolas
de feltro negro. Parou à minha porta!
— Bom dia menina!
Tive vergonha de lhe dizer o quanto estava bonita!
Anoitecia para poder sonhar
e ainda não tinham apagado as luzes da noite.
Ela atava o cabelo, descontrolando os perfumes
de extratos de maça verde pelas ruelas de granito.
Meu rosto todo vermelho, aceso pelo sol nascente.
Vestia um fato cheio de poeira do pelejo.
Fervia o desejo de um beijo doce
na boca seca e gretada da roça sufocante...
Mais uma noite de verão abraçou escaldante
a labareda da lamparina de latão do meu quarto
sob a batuta da brisa do Sul, suave e provocadora.
O canário apaixonado dorme na sua gaiola.
A tinta permanente escorre no papel manteiga
que havia embrulhado um pedaço de queijo.
Redigindo poesias em tom de paixão.
Sentado no chão, perto da janela entreaberta,
olhando na rua deserta os pirilampos galanteadores!
Passa a noite escura! Passa!
Traz a mim a paixão!