Perfume da Memória
— Como poderei eu sonhar
em fazer chegar até ti
esta doce flor campestre
que colhi na dura roça?
— Porque insiste rapazola?
Não posso! Não devo!
Mas sobe até ao cume…tenta!
…como o velho pardal que
poisou nos ramos que cobrem,
a janela que me aprisiona longe
do bosque, do mar da constelação.
— Não tenhas medo… serei fidalgo!
E farei chegar a ti o perfume desta flor
até o teu coração me reconhecer como tal.
Mesmo sabendo que anunciará a morte
tamanha imprudência!
— Não tenho medo!
Os meus lábios tremem de saudade,
saudade de um perfume que nunca
senti para além da solidão…
As lágrimas de prata dos meus olhos,
é dote que pago à minha realeza doentia!
Nos meus dedos corre o sangue
para oferecer à noite.
— Vejo-as! Ah como brilham!
São estrelas meu amor?
Também as escuto no rumor da água
empurrada pelo vento!
— Tu és a água e o vento
eu a estrela das minhas lágrimas.
— Cala-te...chega!
Dói-me a distância do fosso do castelo!
Dói-me o pássaro ter morrido!
Dói-me as folhas crescerem no ramo!
Amo-te.
Amo-te.
Recebe esta doce flor da roça…
onde apenas resta o perfume da memória …
…do vento…do mar e das estrelas.