Fui anjo
Fui anjo uma vez.
Já faz tempo, quase não me lembro.
Mas me recordo de que sorria puramente;
sorria como as crianças.
Fui anjo em um tempo esquecido,
quando os homens todos eram anjos
e, de suas mãos, nascima flores;
não granadas.
Fui anjo em uma era extinta,
em que asas que cortavam os céus
não eram prateadas.
Fui anjo numa época perdida,
em que as palavras
eram os rostos dos homens.
Não me recordo de quando
ou como deixei de ser anjo,
mas creio que foi no dia
em que os homens começaram
a usar máscaras.
©Shirley Carreira