Trajetória

Acho que me perdi num verso.

Um verso muito antigo

De amor desenfreado,

Um verso audaz

Sem métrica e sem rima,

Como a vida.

Acho que me perdi no poema

Sem término, que alguém

Um dia traçou para mim,

Sem que eu quisesse,

Ou pudesse,

Fazer qualquer escolha.

Acho que eu me perdi no tempo,

Nas dobras da memória,

Cultuando sombras

Onde nada existe,

Buscando vida

Em chamas apagadas.

Acho que me perdi de mim

Em alguma curva da estrada,

Em alguma nota dissonante

De um concerto divino,

Em alguma palavra, algum signo

Que alguém enunciou.

Acho que me perdi para sempre

Nas brumas dos desejos eternos

Que só os anjos conhecem.

Sigo, ausente de mim,

O trajeto da pena teimosa

Que me inscreveu na história.

©Shirley Carreira

Shirley Carreira
Enviado por Shirley Carreira em 28/11/2005
Reeditado em 29/06/2006
Código do texto: T77397
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