Trajetória
Acho que me perdi num verso.
Um verso muito antigo
De amor desenfreado,
Um verso audaz
Sem métrica e sem rima,
Como a vida.
Acho que me perdi no poema
Sem término, que alguém
Um dia traçou para mim,
Sem que eu quisesse,
Ou pudesse,
Fazer qualquer escolha.
Acho que eu me perdi no tempo,
Nas dobras da memória,
Cultuando sombras
Onde nada existe,
Buscando vida
Em chamas apagadas.
Acho que me perdi de mim
Em alguma curva da estrada,
Em alguma nota dissonante
De um concerto divino,
Em alguma palavra, algum signo
Que alguém enunciou.
Acho que me perdi para sempre
Nas brumas dos desejos eternos
Que só os anjos conhecem.
Sigo, ausente de mim,
O trajeto da pena teimosa
Que me inscreveu na história.
©Shirley Carreira