Solidão Ferrugem

A solidão me deteriora por dentro de mim como a ferrugem teimosa que arregaça com calma

A solidão como a ferrugem me apavora por dentro,

me corrói, me destrói, me subtrai, me esvai

A solidão me algema aos prantos e lamentos de sentir a dor de todas as dores

Aos solavancos

Aos berros sem ecos dos meus gritos

Na escuridão de léguas distintas e distantes e tão próximas de mim

A solidão essa minha escrava que me propõe o horror de não sentir dor

E o terror

E o horror

da dor não mais sentir

E do sorriso congelado, esquelético, degradado,

sentir o sentido de tudo

E o louvar a vida

E o celebrar a vida

E o comungar a vida

com a lágrima inrustida por entre os lábios cerrados

costurados com arames enferrujados

E a lástima do riso com câimbras, anêmico e torto, tonto e absoluto

como a estrela no firmamento

E a solidão atada aos nós

num amaranhado de tonturas

obscuras e longas como essa solidão sem fim

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 12/03/2023
Reeditado em 12/03/2023
Código do texto: T7738698
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