Solidão Ferrugem
A solidão me deteriora por dentro de mim como a ferrugem teimosa que arregaça com calma
A solidão como a ferrugem me apavora por dentro,
me corrói, me destrói, me subtrai, me esvai
A solidão me algema aos prantos e lamentos de sentir a dor de todas as dores
Aos solavancos
Aos berros sem ecos dos meus gritos
Na escuridão de léguas distintas e distantes e tão próximas de mim
A solidão essa minha escrava que me propõe o horror de não sentir dor
E o terror
E o horror
da dor não mais sentir
E do sorriso congelado, esquelético, degradado,
sentir o sentido de tudo
E o louvar a vida
E o celebrar a vida
E o comungar a vida
com a lágrima inrustida por entre os lábios cerrados
costurados com arames enferrujados
E a lástima do riso com câimbras, anêmico e torto, tonto e absoluto
como a estrela no firmamento
E a solidão atada aos nós
num amaranhado de tonturas
obscuras e longas como essa solidão sem fim