NO RASTRO DA POESIA

Eu me chamo Tânia Castro

Da poesia, sigo o rastro

Faço versos por prazer

Sem escrever, não me vejo

Sou cria lá do Merejo

Por, nesse sítio, nascer

Eu sempre gostei de ler

É lendo que posso ver

Além da imaginação

Já li de tudo na vida

Desde "A bela adormecida"

A "Amor de perdição"

Eu li a saga do sertão

No rádio, ouvi baião

Também ouvi cantoria

Não lembro bem qual idade

Mas gostava de verdade

De rabiscar poesia

Aqui e ali escrevia

Sobre a paisagem que via

Esbanjava sentimento

Isso foi na minha infância

Não davam muita importância

Parei num dado momento

Sem falar do meu lamento

Segui com discernimento

Minha vida de estudante

De vez em quando, eu brincava

Comigo mesma rimava

Só eu achava importante

'Que desilusão infante'

Pensava, por um instante

'Isso não é poesia'

Mas gostava de me ouvir

Ouvir música e sentir

Os versos na melodia

Já na escola não se via

Falarem de cantoria

Os livros, também, não tinham;

Clássicos da literatura

Mostravam nova cultura

Mas meus versos lá não vinham

Pensamentos não se alinham

Interesses se detinham

Ao caminho de Drummond

Aquela pedra, venci

"E agora, José?", cresci

Aos poucos, mudei o tom

Gostava de ouvir "Saigon"

'Meu verso não era bom'

Pensava com meus botões

A ler clássicos, me punha

Machado, Euclides da Cunha

"Dom Casmurro", "Os Sertões"

Abafei as emoções

Por inúmeras razões

Fui cursar pedagogia

Porém, não sei a razão

Mas, aos poucos, larguei mão

De rabiscar poesia

Até que num belo dia

Após décadas, me via

A rabiscar os meus versos

Lágrimas vêm, ao lembrar

Retomei meu versejar

Mesmo com versos dispersos

Os dons, por vezes, imersos

Sejam, ou não, controversos

Precisamos despertar

Amo fazer poesia

Além de prazer, mania

Não mais pretendo parar

Vou, meu caminho, trilhar

Na cultura popular

Enquanto vida eu tiver

Tenho o Cordel como mastro

Poetisa Tânia Castro:

Professora, mãe, mulher

Não importa o que disser

Farei sempre o que quiser

Tenho Deus como meu guia

Afasto o radicalismo

Quero cordel sem machismo

Aprendendo a cada dia

Unidos em harmonia

Quero ver na cantoria

Mulheres nos festivais

Todos em prol da cultura

Cordel é literatura

Quero vê-lo nos anais

Vítimas não somos mais

Só queremos ser iguais

Mostrarmos nosso trabalho

Alguns homens dão pinotes

Querem manter holofotes

Se seus machismos, espalho

Uso bom senso e não falho

O diferente, não malho

Destaco os nobres poetas

Homens de bom coração

Ao machismo, dizem não

Pessoas muito diletas

Não sucumbo a indiretas

Defendendo minhas metas

De enaltecer a cultura

Somos muitas no cordel

Menestrina ou menestrel

Nossa poesia perdura

Coerente tessitura

Criação e criatura

No meu verso improvisado

Seja no verso ou na prosa

No mote que gera a glosa

Meu verso é cordelizado

Um vate é sempre inspirado

Por vezes, muito instigado

A falar da natureza

Não mais importa a temática

Minha verve diz a tática

O dom, por si, a beleza.

Tânia Castro 22/08/20

Doutor Severiano-RN

Tânia Castro
Enviado por Tânia Castro em 10/03/2023
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