LADAINHA AO VELHO CHICO

Dia e noite, noite e dia,

passa o rio e seus mistérios...

Rio velho, São Francisco,

por esta gente eu suplico!

Ribeirinha esquecida,

do progresso escondida,

rodeada de incerteza.

Barcos parados à espera,

sonhos tontos à deriva,

resignada tristeza.

 

Atrás da mesma ilusão

comi poeira na estrada.

Eu percorri muito chão

para, afinal, não ver nada.

 

Rio calmo, fulgurante!

Dá-me ver com teu olhar

além dos ranchos vazios,

além das ruas desertas,

coisas que ainda não vi.

Povo manso, acolhedor

que apesar da privação,

não se rende à própria dor,

porque seus secretos ais

deságuam longe daqui.

 

Velho Chico, bentas águas

berçário de abundância,

do leito escuro de mágoas

faz ressurgir a esperança.

 

Banhei-me com tua luz.

Permite-me vislumbrar:

em tua viagem mansa

ou nas cheias corredeiras,

sustentas em tuas margens

a morte e a vida inteira.

Com tal infinda riqueza, 

E és tu, magia que atrai

mais que o canto da Iara:

Esta gente aqui está presa.

 

Presente na coletânea "Prece",  da Editora Recanto das Letras. Reeditado.

Imagem: Rio São Francisco, por Zaíra Belintani 

 

 

Zaira Belintani
Enviado por Zaira Belintani em 09/03/2023
Reeditado em 01/08/2023
Código do texto: T7736615
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