ANDARILHO

Ando por aí, indistinto,

entre vivos, mortos

e indecisos.

Ando para perder tempo.

Pois não tenho mais

a ilusão de um destino.

Todos os caminhos e lugares

hoje me parecem iguais.

Ando por aí

buscando outra realidade

no avesso de cada pessoa

que me expõe a futilidade de nossa imanência

e a infinitude da minha insignificância.

Estou sempre presente

em lugar nenhum,

indiferente aos outros

e avesso a minha própria existência.

Ando por aí

para desaparecer em todas os lugares,

na confusão de todos os tempos,

que provaram e povoam meu corpo

anunciando, desde o início,

o fim do caminho

e da ilusão do mundo.

A vida, afinal,

é um grande silêncio.