(à maneira de Rochefoulcaud)
Quem fica esperando pela sorte
Espera sempre e mais um pouco;
A faca cega nunca faz bom corte
E um bico de pato não fura coco.
Um sambista bom não faz bolero,
A chuva miúda não enche açude;
Se o valente grita “eu não quero”
Um covarde chora: “eu não pude”.
Galinha canta quando bota o ovo,
Galo trina quando o sol desponta;
O descuidado sempre faz de novo,
Quem convida é que paga a conta.
Ter uma religião não significa ter fé;
A agua suja sempre vai para o ralo;
Um pé de anjo não cheira a chulé
O sapato macio não provoca calo;
Só está certo o que não dá errado;
O mineiro esperto come pela beira;
Quem é fiel não precisa ser vigiado,
O cão treinado nunca quer coleira.
Quem quer faz e sem muito alarde;
Se não quer, espera que outro faça;
A lenha seca logo pega fogo e arde,
Enquanto a verde faz muita fumaça.
O inverno é bom se a cama é quente,
E um vinho caro só se bebe em taça;
E quem quiser morrer rapidamente,
É só achar que a vida perdeu a graça.