Você não cabe no meu tempo

De realizações não se fala.

De frutos muito menos.

O poeta só diz

que o amargo sabor

dos cristais da vida

tornam tudo razoável:

desejos inconformados,

realizações sem frutos.

Tudo razoável pra gente beber e viver.

Até a ave que não voa, sem asas,

torna-se razoável diante

do amargo da vida, declama.

É razoável se perder na sextavada da vida,

no badalar dos sinos que berram na manhã.

É a primeira hora, anunciam.

Quem quer saber?

Fecha-se os olhos

e deixa-se o tempo passar.

É, acabei de descobrir:

- sou porto sem cais

e rebato sua presença a beira-mar.

E, não tenho como chegar

onde acho que já estou.

Mas se ainda não estou,

não tenho mais tempo para chegar.

O tempo passou.

E dele não posso mais fazer voltar.

Então, espero que já esteja

em algum lugar de sua vida.

Se ainda não estiver

é porque não me queres lá.

Ir já fui... se não estou

é porque cheguei

e não me deixaram ficar.

Não há como me aguardar mais.

Sorveteiros e balas podem chegar

a qualquer momento,

de qualquer mundo.

Eu? Já havia chegado.

Corri escadas

e até caí aos pés do rei

em uma de minhas chegadas.

Mas, dizes que não estou.

E dizes mais:

- não sonhes chegar

num sábado de verão -

é dia, é manhã de meu corpo.

Aos sábados eu gosto de ficar sozinho.

Preciso de um tempo pra mim!

E neste tempo meu você não está!

No meu tempo não cabe você!