Espero o tempo passar

Não posso mais escrever nas linhas brancas

desse caderno de primeira página.

Conheço o início da história que já escrevi,

mas não sei se terá continuidade

ou se um dia saberei o seu final,

por isso, dela, não posso o livro da vida escrever.

Já nem sei mais se ainda dela faço parte.

Não me vejo mais nas linhas já escritas.

Não sou as mulheres de que o livro conta a história

Nem mesmo uma acácia eu sou.

Mas, talvez eu seja a onda

que contra as rochas do paredão já se espatifou

e teima em voltar ao mar para de novo contra elas se jogar.

Não quero mais escrever uma história sem fim.

Também não quero ser eu a ter de escrever outra vez o seu início.

Cansei! Prefiro esperar. Esperar o tempo passar...

assim, assim, como já se passaram 17 séculos,

17 milênios de vida que Só eu senti, Só eu vivi.

Continuo lá, sentada nas rochas a beira-mar,

olhando as águas e o sol entardecendo em minha vida.

Só, me abraço os joelhos, olhar longínquo e espero...

espero o tempo se ir, o tempo vir, o tempo passar...