A JUSTIÇA DE SALOMÃO - AS DUAS MÃES (I REIS 3, 16ss)
Esta é a história de duas mulheres
Que compartilhavam a mesma casa
Comiam com os mesmos talheres
Assavam seu pão na mesma brasa
Elas exerciam uma mesma profissão
Conselheiras e damas de companhia
Acolhiam o empregado e o patrão
Dando-lhes horas de grande alegria
Mas aconteceu delas engravidarem
Em um mesmo período e situação
Não havendo chance de se casarem
Deram à luz sobre o mesmo chão
Dois meninos lindos e saudáveis
Vieram ao mundo naquele mês
Mulheres e suas crianças adoráveis
Faziam família de quatro e não seis
Aconteceu no entanto uma tragédia
Uma das mães dormiu embriagada
Em seu sono profundo perdeu a rédea
E deitou sobre o bebê na madrugada
Quando percebeu o que acontecera
Não gritou, nem chorou a matriarca
E com frieza como que feito de cera
Trocou os nenéns sem deixar marca
A outra mãe acompanhou sua ação
Conteve um ataque de grande pavor
Quis chorar, mas não esboçou reação
Abafou no travesseiro o grito de horror
Não dormiu e permaneceu vigilante
Seu objetivo era salvar o outro bebê
Pois percebia que a colega petulante
Não deixaria nada impedir seu querer
Enfim quando o sol esplêndido nasceu
Percebendo que dormia a assassina
A inocente pegou nos braços o filho seu
E correu para denunciar sua triste sina
Mãe e criança foram acolhidos no Palácio
O próprio rei ouviu atento sua versão
A outra logo atrás chegou e entrou fácil
Disse que a versão da colega era sem razão
Salomão paciente ouviu também seu lado
Sem tomar partido de uma ou de outra
O bebê muito pequeno permanecia calado
Mas as línguas femininas seguiam soltas
Quem era a verdadeira mãe da criança
Qual delas matara por descuido um menino
E trocara o vivo pelo morto nessa lambança
Sem ao menos temer pelo castigo divino
Salomão sem poder chegar a um veredicto
Pois não havia testemunha alguma
Pensou: “Vou resolver isso e tenho dito
E que não fique no caso nenhuma lacuna”
As duas mulheres requeriam a maternidade
A qual entregar a vida para ser cuidada
Qual das duas faltava com a verdade
Qual fizera uma criança morrer esmagada
Pediu que o guarda lhe trouxesse a espada
Pediu que a mulher lhe entregasse o menino
Avisou que a criança seria decepada
Cortada ao meio como se fosse um pepino
Mediu bem pra que as partes fossem iguais
E disse que daria a cada mulher uma fração
Fazendo justiça às duas mães como tais
E encerrando de vez aquela discussão
A mulher que trocara o vivo pelo morto
Disse ser uma ótima decisão da majestade
Mas a outra falou: “Não dilacere seu corpo
Deixe o menino viver e avançar em idade
“Se é condição para a criança existir
Eu abro mão do meu direito de genitora
Entregue-a a essa que mentira está a exibir
Que cuide bem dela como uma leal tutora”
Mas Salomão em sua grande sabedoria
Já sabia quem era a mãe de verdade
Aquela que por seu filho se sacrificaria
Aquela que não tinha no coração falsidade
Mandou entregarem a criança à primeira
E ordenou que prendessem a segunda
A justiça do rei Salomão foi certeira
Desfazendo aquela tramoia imunda
Sem testemunha e sem nenhuma prova
O julgamento não protelou nem se cancelou
Essa história bíblica sempre se renova
Quando a verdadeira justiça dá um show
Aberio Christe