Nada me fascina

Como a criança que não se diverte ao brincar

E a formiga que ignora o grão,

Tenho sentido um completo desgosto pela vida.

Como a abelha que não existe pela colmeia e o leão que ignora a sua presa,

Tenho contrariado o próprio instinto de viver. Nada me fascina.

Como os gatos que escolhem seus donos, alguns sentimentos em mim habitaram.

Ainda em pouca idade não me perdoaram, raízes tão profundas que só há raízes.

Meu cérebro se transforma em uma geléia a cada minuto de respiração.

Hoje estou mais angustiada do qualquer outro dia, e ontem estive mais que qualquer outro dia, e anteontem mais que qualquer outro dia e trasanteontem mais que qualquer outro dia.

Não falo do amanhã porque o futuro pertence a Deus, as cartomantes, as videntes, aos médiuns e aos amantes do signo; não a mim, a mim não.

A mim cabe os sentimentos que me fizeram morada não como um ninho zeloso de um pássaro, não em mim. Em mim invadiram, destruíram e ocuparam o lugar das belas memórias, do afeto ao simples, da Esperança e do desejo pelo amanhã.