Duas sacolas
De tudo o que sobrou de nós,
em duas sacolas tudo se foi.
De todas as coisas que esquecemos
no armário, em dois volumes altos
a canção terminou.
A pior música que já toquei:
os descompassos, os desacertos;
os desamores, os desarranjos,
as desarmonias.
Pois eis que, de tudo o que guardei
de nós, em duas sacolas esvaziei:
meus quartos, meus quintos
dos infernos que vivemos.
Os planos que não fizemos,
os locais pra onde não fomos
os prazeres que esquecemos,
as dores que acumulamos
de saco cheio te devolvi:
dois sacos
secos,
cheios de lágrimas
de alívio.
Duas sacolas
não-retornaveis.