Duas sacolas

De tudo o que sobrou de nós,

em duas sacolas tudo se foi.

De todas as coisas que esquecemos

no armário, em dois volumes altos

a canção terminou.

A pior música que já toquei:

os descompassos, os desacertos;

os desamores, os desarranjos,

as desarmonias.

Pois eis que, de tudo o que guardei

de nós, em duas sacolas esvaziei:

meus quartos, meus quintos

dos infernos que vivemos.

Os planos que não fizemos,

os locais pra onde não fomos

os prazeres que esquecemos,

as dores que acumulamos

de saco cheio te devolvi:

dois sacos

secos,

cheios de lágrimas

de alívio.

Duas sacolas

não-retornaveis.

Gustavo Alvaro
Enviado por Gustavo Alvaro em 01/03/2023
Código do texto: T7730056
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.