tempo e amor
sair por ai andando, sem rumo
foi destino de muitos dos que me antecederam
quando a agonia toma conta do peito penso no mesmo
sair, por ai, desbravando
encontrando caminhos novos pro meu eu
maneiras outras de poder existir
me deparo com o espelho dizendo que já não sou mais uma menininha
o mundo já não me quer mais como já me quis um dia
habito o medo ou o medo me habita
temendo o mesmo destino
as mesmas ruas
as mesmas esquinas
as mesmas solidões ...
como me encontrar aqui?
onde já estou
desfrutando de amores que vezes parecem aprisionar
algo que quer voar
mas não tem terra para repousar
terras essas que um dia foram tiradas dos meus ancestrais
junto com as almas,
as crenças,
as famílias,
os laços,
os afetos,
os nomes,
as infâncias,
as juventudes,
os repousos dos longevos
restou uma ânsia por revolta
por justiça de xango e não de themis,
que é cega e tenta cegar também a todes nós
deixando o emaranhado da confusa colonização
que de confusa tem somente a mentira do porto, do cais
mas que claramente, mente, branca e impiedosa
a ânsia pela retomada feita por nós e nossos parentes
feita com flechas e sem armas de fogo
tecidas com lanças buscando o destino febril da maldade
acertando o peito fálico
o corpo tosco do poder
encontrando o quilombo
aquilombando as consciências
enegrecendo e sendo corpos vivos
quadris que se movimentam em direção ao amor e o tempo
onde as ruas são encontros
as esquinas grandes surpresas de alegrias
e a solidão seja a de ver, sentir e interpelar as questões que habitam o buraco da existência na terra
mas que abraça a busca por ser, somente ser
em grandes círculos ao redor do fogo
o tempo e o amor.