Quero o Avesso das Palavras

Sinto sede por palavras

Sinto fome por escutar

Vontade de ouvir

de enxergar

de desnudar

De escutar e desenhar as formas que essas palavras me dariam

E esculpir a sua dimensão em meu coração

E compor tantas canções que me fariam rasgar sorrisos por dentro

E versar poemas com as palavras que iluminaram a minha alma que quer bordar versos pelo mundo

Não quero palavras diluídas aos ventos e corroídas pelo tempo

Quero palavras grávidas

Palavras que parem flores

E no exercício de em-flores-ser

Excitar o meu porvir sem rugas

Quero e preciso de palavras sem a sizudez linear e racional, carrancuda

Quero palavras grávidas, leves, coloridas, com cheiros e com perfumes e com cor de gente

Palavras com o calor de Deus

Não quero e não gosto de palavras robustas de sentimentalismos toscos, vulgares...

Ah, que saudade de palavras doces, afáveis, bonitas

Desejo acariciar palavras

Minha pele tem sede

Desejo de degustar palavras

Meus poros tem fome

de sentir os cheiros das palavras vindas de longe e que de perto

fazem iluminar como um clarão

Tocando a tez das palavras

e fazê-las pulsar como as estrelas

Quero palavras sorrindo

Quero palavras no cio

Quero convulsões de palavras rindo de ásperos instantes tão sombrios

Fome e sede por palavras

E meu desejo tão grande por elas

E agora me saciar com palavras poucas, miúdas, pequenas, em voz alta, em silêncio ...

Sinto fome e sinto fome e sinto fome por palavras

Quem me dera ouvi-las !

Apalpá-las!

Sinto sede e sinto sede e sinto sede

por palavras...

Quem me dera senti-las

E minha vida se tornaria um poema

Quero palavras como adubos

como úberes, como gotas de chuvas

Como gotas de orvalhos

Quero palavras

Preciso de palavras

Quero todas elas fazendo amor comigo

Em todas estradas, em todos os caminhos em que trilho sozinho

com palavras semeadas em meu alforje em que guardo redemoinhos aventureiros, determinados

a semear versos como sementes

a florir mais tarde e sem demora

em meu estado de poesia

a romper a clarão de cada dia

como verbos desnudos

e encarnados com as Bonitezas dos meus dias a dias

Quero sentir os cheiros das palavras pelo avesso

e ter acesso a alma que arde nelas

e poder galopar por ventanias a fora

Quero palavras que tirem a minha roupa

Que me deixem nu

Prostrado diante das flores como mendigo a se embebedar com o tempo !

Como peregrino a se embelezar com as lágrimas que as palavras causam gozos

E saciado com a beleza de cada uma delas em comunhão com os deuses e deusas que me guiam

me alumiam

me entorpecem

como os poemas de Neruda,

Quero comer palavras

Quero beber palavras

Raimundo Carvalho
Enviado por Raimundo Carvalho em 25/02/2023
Reeditado em 26/02/2023
Código do texto: T7727747
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.