Insatisfação

O cansaço da existência

Propõe-me que reinvente em mim

Formas, maneiras, instantes em que sinta

A plenitude do próprio existir que me convida.

Há tanto no mundo e tão pouco

Ao mesmo tempo...

Muito a se aprender

Com o universo do eu

E pouco que apresenta como convite

A se querer o além.

As inúmeras resguardadas câmaras

De sofrimento

Em que nós, humanos, nos alocamos

E ficamos na escuridão, quietos

E sozinhos

Prenunciam as realidades perdidas,

Ilusões galgadas

Exteriores deteriorados e externalidades adulteradas.

Viver cansa muito.

Talvez não cansasse tanto,

Se eu fosse uma pedra

Imóvel e estática?

Ou um caracol, que não se importa em

Vagaroso trilhar seu trajeto...

Mas será que ele é tão paciente assim?

Os ideais que proponho à mim são ideais de um morto.

As insalubres questões que me rondam

São questões da pele arrefecida pelo enxofre dos abismos,

Sentidas ao profundo, querendo um céu que as console.

Plenos instantes são ilusões.

O que nos resta neste mundo é lutar ou se entregar de vez.

As duas opções me parecem ferrenhas, infinitas, regurgitantes.

As vezes eu queria apenas

Que as minhas falhas fossem falas do profundo desistir

Que sua voz ecoasse ao longe, e que se achegando a mim

Me consolasse com seu timbre exótico e especial.

Eu sou e serei um ser humano eternamente insatisfeito

Enquanto eu existir

Pois é essa insatisfação que me faz querer algo além

Ou afundar-me cada vez mais em seus caprichos.

Enquanto eu vida tiver,

Serei o próprio buscar

E se as flores no caminho

Me insultarem para que eu retorne

Isso diz mais sobre elas do que sobre mim.

A natureza do ser que é prisioneiro

E livre ao mesmo tempo...

E não sabe onde vai atracar: essa é a beleza da insatisfação.

Mas o que é que farei com a minha?

Adentrarei.

Ligeia Amanna
Enviado por Ligeia Amanna em 24/02/2023
Código do texto: T7727006
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