SOMOS

Somos como os que não voltam

Às cinzas de quartas mortas,

Trôpegos brasões da escória

Errando ruas e portas:

O engulho indigno das horas

Será nosso Ora Pro Nobis,

Nós, o dejeto da História

No fátuo aqui sem memória.

Outros celebrem no tempo

De força e avivamento,

Não nós, em vício e lamento

Forjados, farsa em portento --

Somos o olho de imenso

Abismo faminto horrendo,

Chamas num mundo de extremos

Entre o que é puro e o excremento.

Urros orgíacos, burros

Sem rumo, fruto ou futuro,

Nosso querer é o monturo,

Escombros por testemunho

Do que se erguia no escuro,

Vil logradouro do orgulho.

Do quanto resta, esse apuro

Sem porta ou grades, sem muro.

Vamos sem graça ou beleza

A meta inútil das bestas,

Queixas servis desonestas

São nosso mote e destreza.

Menos que justos à mesa,

Tolos cantando certezas

Sob trincas de mil represas,

Somos vaidosa fraqueza.

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Israel Rozário
Enviado por Israel Rozário em 23/02/2023
Código do texto: T7726102
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