E se não fosse!

Terias me dito com olhos abertos,

Como souberam os outros lábios,

Ou apenas fingiste não os ter,

Na mera inocência do prazer,

E se não fossem as letras,

Como poderias escrever,

Essa cólera febril que te rasga,

Feito a décima primeira praga,

Que costura o corpo,

Com as agulhas da excitação,

E se não fossem os raios,

Como buscarias inspiração,

Deixavas esta aos gritos,

Ou atenderias o chamado dos aflitos,

Que ousaram atravessar o canal da glote ,

Ávidos pelo soar da liberdade,

Num cálice cheio de outros desejos,

Que floriram na alma,

Quando as chamas circulam o sangue,

Estimulando as artérias de embriagadas vontades,

E se não fossem versos,

Gemidos e tímidos,

Fruto de um sucessivo orgasmo mental,

Que o cérebro não segurou,

E teve de deixá-lo sair de forma natural,

Para não atrofiar os nervos excitados,

Perante a nudez da inspiração,

O que seria, se não fossem livres as palavras(...)!?

(M&M)

Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko
Enviado por Daniel Miguelavez ou Merlin Magiko em 22/02/2023
Reeditado em 22/02/2023
Código do texto: T7725194
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