A Cor do Meu Grito
O grito apertado
O grito guilhotinado
O grito sufocado
A mágoa que grita
O grito que ecoa devastado no silêncio dos descasos
O grito que chora sem lágrimas
Não há mais lágrimas, a sua fonte secou
Não há mais como nutrir e irrigar
os poros da pele como morada da vida que ainda pulsa
A angústia no curtume, no varal, na sentença que avança, que alavanca dores e mais dores
E essa continua dor a arder na noite tão larga, tão seca, tão pobre
A raiva a implodir as veias, a explodir
o que ainda restava de coragem
As lágrimas contidas escondidas
As feridas a queimar na escuridão de mim em pedaços, em farrapos, às cinzas, à míngua, as léguas distante de um gole de poesia
numa escassez de versos soltos e perdidos nas ventanias dos descasos, das indiferenças, das hostilidades
Meus sorrisos soterrados,
enforcados, castrados nos currais
volumosos de tristezas
Mas, sem espaços para o ódio
Mas, ainda resta um pouco de ternura,
de afeto nos esconderijos de mim,
no pulsar da ousadia da existência da minha alma mesmo pálida mas ainda viva, cheia do calor da minha forma de existência!