MEMÓRIAS SILENCIADAS
Memórias recentes de um recém-sepulto
Guardam tão bem o seu frescor
E o cheiro de sua fantasmagórica presença,
Mas que pouco a pouco, de forma irreversível,
Começa o desbotamento das vivas cores
Dessa marcante lembrança:
Tão fortalecida outrora por um inverno
De suspiros, lágrimas e evocações!
Sim, pois ela enfim pode perder
Todo o seu brilho e esplendor,
Até que enfim reste pouca coisa
No quarto escuro da memória.
Com o tempo, inevitável e inexoravelmente,
As lembranças de uma vida
Ficarão estranhamente esparsas,
Empurrando as marcas e os rastros de um ser
Num passado cada vez mais distante.
De tempos em tempos, tornar-se-ão longínquos
A vivacidade das recordações de uma vida,
Fenecendo de forma implacável
Inclusive as lágrimas de uma doce saudade...
É de nossa memória afetiva que podemos entoar
O mais belo lamento numa elegia!
Mas é o esquecimento progressivo
De uma pungente dor
E consequentemente a cura e o consolo,
Que a vida sem mistificação
Aprende tão bem a elaborar
Após longos dias
Embargados em desolações, inconformismos e luto.