Não entendo esta vontade

Não entendo

Esta vontade

Desmedida

De dizer

O que te quero

Esconder

E se esvai

Como sangue

Rubro

De ferida

Que cai

Pelos dedos

Escorreitos

Numa docilidade

De um puro

Prazer

Eu sei

Que são apenas

Letras vivas

Perdidas

Entre elas

Enamoradas

E enlouquecidas

Pelos sobressaltos

De nada saber

E que vivem

Em mim

À mercê dos sentidos

Que as escrevem

Sem nada lhes dizer

Estão assim

Dominadas

Não por mim

Mas em poemas

Caladas

No peito

Dos segredos

À espreita

Na janela

Das recatadas

Palavras

Engolidas

Que tão bem

Sabem

Do meu viver

Talvez

Não as devesse largar

Porque as bebo

E me sacio

No que escrevo

Numa nudez

Que te devo

De suspiros imperfeitos

E lhes sopram

Com ventos

Num correio

De silêncios

Lentos

De suavidade

Que só tu lês

Com a claridade

Dos pensamentos!

Luísa Rafael

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Porto, Portugal

Luísa Rafael
Enviado por Luísa Rafael em 17/02/2023
Código do texto: T7721641
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