Não entendo esta vontade
Não entendo
Esta vontade
Desmedida
De dizer
O que te quero
Esconder
E se esvai
Como sangue
Rubro
De ferida
Que cai
Pelos dedos
Escorreitos
Numa docilidade
De um puro
Prazer
Eu sei
Que são apenas
Letras vivas
Perdidas
Entre elas
Enamoradas
E enlouquecidas
Pelos sobressaltos
De nada saber
E que vivem
Em mim
À mercê dos sentidos
Que as escrevem
Sem nada lhes dizer
Estão assim
Dominadas
Não por mim
Mas em poemas
Caladas
No peito
Dos segredos
À espreita
Na janela
Das recatadas
Palavras
Engolidas
Que tão bem
Sabem
Do meu viver
Talvez
Não as devesse largar
Porque as bebo
E me sacio
No que escrevo
Numa nudez
Que te devo
De suspiros imperfeitos
E lhes sopram
Com ventos
Num correio
De silêncios
Lentos
De suavidade
Que só tu lês
Com a claridade
Dos pensamentos!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal