ESCARRO
Minha poesia é surda,
não escuta os gemidos da cidade,
e se escuta
enojada cospe.
Minha poesia não tem rima,
tão pouco promete.
Minha poesia mente,
pende a todo som que estima,
minha poesia sente,
mais que tudo sente
e o que sente escarra,
vomita no papel, teclado,
o molha.
Minha poesia chora,
envolve cada lágrima de mim.
Num silêncio mudo, fala.
Cala toda voz.
Minha poesia não se sabe,
esconde
em algum canto escuro,
sob o céu da minha boca,
sobre tudo que jamais senti.
Minha poesia é, e mais que tudo, é bela,
debruça no beiral da tua janela
pra dizer te amo, adeus, quem sabe ou nunca mais.