"O ARRUACEIRO" Poema de: Flávio Cavalcante
O ARRUACEIRO
Poema de:
Flávio Cavalcante
I
Ficava ele fora de si e metia a cara na bebida
Saía pela noite igual à um desnorteado
Se metia em confusão de cara lavada e cuspida
Gastava o que não tinha e pedia emprestado
II
Sua vida era nas farras, mulheres e bordéis
Deixava sua mulher em casa com quatro filhos
Dizia ser o barão, parente de muitos coronéis
Uma locomotiva que já estava fora dos trilhos
III
O vício era o seu prazer e a sua maior felicidade
Passava horas à fio para chegar na sua casa
Cada biraia representava um atraso à dignidade
Da enganação que muitas vezes extravasa
IV
Seu ritual era marcado pela sua sacanagem
Mergulhado no errado mas não admitia o erro
Desprezava quem de fato dava a ele a vantagem
Só valorizava de fato na separação ou no enterro
V
Achava o anfitrião que estava abalando na noitinha
Que ser arruaceiro é ter a masculinidade em alta
Acordava pra vida quando perdia o resto que tinha
E não via que em casa não está fazendo tanta falta
VI
Voltava pra casa sem nenhum dinheiro no bolso
Igual a um cachorrinho pedindo amor e carinho
Ganhou um par de chifres e se afundou no poço
Perdendo o seu filé pro amigo ou pro vizinho