O Duplo
Naquela manhã, não olhei
meu rosto. Tampouco achei
necessário fazê-lo.
Saí assim, desatinado
como o pássaro fisgado
pelo motor do avião.
Vigiado pelos muros,
entre olhares prematuros
na fresta do estranhamento.
À noite, tomei ciência
da falsa coexistência
de um "eu" já aniquilado.
Gritando pelas artérias,
sustentado por misérias
de uma promessa vazia.
Dormi tranquilo, no entanto.
O que me castiga é o manto
das manhãs cotidianas.
Quando olho em um espelho
e encontro o meu parelho
a chorar desilusão.