O Duplo

Naquela manhã, não olhei

meu rosto. Tampouco achei

necessário fazê-lo.

Saí assim, desatinado

como o pássaro fisgado

pelo motor do avião.

Vigiado pelos muros,

entre olhares prematuros

na fresta do estranhamento.

À noite, tomei ciência

da falsa coexistência

de um "eu" já aniquilado.

Gritando pelas artérias,

sustentado por misérias

de uma promessa vazia.

Dormi tranquilo, no entanto.

O que me castiga é o manto

das manhãs cotidianas.

Quando olho em um espelho

e encontro o meu parelho

a chorar desilusão.

Eduardo Becher
Enviado por Eduardo Becher em 06/02/2023
Código do texto: T7712542
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