no começo deus abriu seus braços para mim
corri para ser o milagre de alguém
um amor de meio século a nascer das cinzas
o rio se desfez no meio do caminho
não sei ser amor de ninguém, sou pedra
sou bicho do mato assustado com a tempestade
no ser rude deitei-me com os leões
meu maior medo era comê-los um a um
eis que a serpente desafiou-me com um segredo
se eu o contasse para alguém morreria
não pela serpente, mas pelos deuses do olimpo
segui cem metros e abri a boca ao mendigo
abri a boca à lavadeira, à parteira, ao ourives
os deuses me tiraram os céus e o chão
suspensa no ar sem poder voar supliquei perdão
é praga que se joga a quem não amamos
ou é peste que vem quando decepcionamos
até as serpentes sabem da minha fraqueza
deus, eu não sou feita da costela de adão
eu sou um verso descuidado de um demônio qualquer
entre espinhos e desertos sangro para dentro
mil mulheres de mim morrerão depois de amanhã
com marcas de agressões nas ideias
e no corpo a mensagem dos elefantes é utópica
a carne é vendida por cem dólares na bolsa de valores
no prostíbulo se vende mais barata e elas são princesas