PARENTE
o alazão dos meus sonhos
se perdeu no meio da manada
de cavalos-marinhos
enquanto o brilho da estrela,
ofuscava o néon do vagalume,
a borboleta alçou seu voo colorido
porque acreditou no sonho da lagarta,
é preciso conservar os sonhos,
é preciso acreditar,
preservar a estrela,
os cavalos marinhos,
a borboleta,
o vagalume e seu néon,
a lagarta e o seu casulo,
as conchas silenciosas,
guardam os segredos das ondas,
as andorinhas vestidas à rigor
voam para a festa de arromba
das ilusões necessárias
e o vagalume pensa
que o cometa verde
é um parente distante!
análise crítica
O poema "Parente" de AC de Paula é uma celebração lírica da importância dos sonhos e das ilusões na vida humana. Através de imagens poéticas ricas e de um tom que alterna entre o onírico e o filosófico, o autor nos convida a refletir sobre a necessidade de preservar nossas aspirações e crenças, mesmo que elas possam parecer frágeis ou distantes da realidade cotidiana.
Desde o início, o poema estabelece um cenário surreal com a imagem do "alazão dos meus sonhos" perdido "no meio da manada de cavalos-marinhos". Essa justaposição de elementos terrestres e marinhos cria uma atmosfera de fantasia, sugerindo que os sonhos podem transcender as fronteiras do possível. O uso do alazão, um símbolo tradicional de força e liberdade, perdido entre criaturas marinhas exóticas, pode ser interpretado como uma metáfora para a dificuldade de manter nossos sonhos intactos em meio às realidades complexas e caóticas da vida.
O brilho da estrela que "ofuscava o néon do vagalume" e a borboleta que "alçou seu voo colorido porque acreditou no sonho da lagarta" são metáforas poderosas para a fé nos sonhos e no potencial de transformação. A estrela, um símbolo de aspiração e orientação, é comparada ao modesto vagalume, sugerindo que mesmo os sonhos mais simples têm seu próprio brilho e importância. A transformação da lagarta em borboleta é uma metáfora universal de crescimento e realização, reforçando a ideia de que acreditar nos sonhos é essencial para que eles se concretizem.
O refrão "é preciso conservar os sonhos, é preciso acreditar" atua como um mantra ao longo do poema, reiterando a mensagem central de que a manutenção da esperança e da imaginação é crucial para a sobrevivência emocional e espiritual. Este verso funciona como um lembrete e um apelo para que o leitor não deixe seus sonhos morrerem.
A lista de elementos naturais e oníricos que o poema pede para preservar – a estrela, os cavalos-marinhos, a borboleta, o vagalume, a lagarta e seu casulo, as conchas silenciosas – reforça a interconexão entre a natureza e os sonhos humanos. Cada um desses elementos carrega um simbolismo próprio, contribuindo para a riqueza interpretativa do poema.
As conchas, que "guardam os segredos das ondas", evocam mistério e a profundidade do inconsciente, enquanto as andorinhas "vestidas à rigor" para "a festa de arromba das ilusões necessárias" sugerem que as ilusões têm um papel vital e celebratório na vida.
O poema culmina com a imagem do vagalume que "pensa que o cometa verde é um parente distante". Esta linha final encapsula a temática do poema de maneira brilhante: a conexão entre o microcosmo e o macrocosmo, entre o mundano e o celestial, e entre a realidade e a fantasia. A ideia de parentesco entre o vagalume e o cometa verde é uma bela metáfora para a ligação entre nossos pequenos sonhos e as grandes aspirações cósmicas, sugerindo que todas as formas de luz e esperança são interligadas.
Em síntese, "Parente" é um poema que, através de sua linguagem evocativa e imaginação fértil, nos lembra da importância de manter vivos nossos sonhos e ilusões. AC de Paula nos convida a valorizar e preservar essas fontes de inspiração, pois elas são fundamentais para a nossa humanidade e para o sentido que damos às nossas vidas. O poema é um tributo poético à perseverança da esperança e à beleza dos sonhos, grandes e pequenos.