deixo às manhãs os dentes sisos do outono
na dúvida carrego novembro nas costas
rogo a Deus o milagre do simbolismo
vela acesa num canto da casa
santo de barro com laço de fita do Senhor do Bonfim
três horas de contos de chuva sem revoluções
do mito de Tellus eu nasci dessa Terra
num redemoinho de sopa de ossos
mato a fome dos espíritos de luz
que procuram médiuns cavalheiros ou damas
cheiro de flores, objeto ao chão, fantasmas
a casa é habitada por relógios sem ponteiros
que dizem as horas à sombra da escuridão
tormento é querer ser gigante em terra de anões
na passagem do tempo, o Sol respira opressões
aos pés cansados bacia de água morna
correm os calos dos meus sonhos... sem vontade própria
morrer antes do devaneio corpo e alma desassossegados
estranho é o não-ser do ferro quente a marcar gados
riso é pra quem sabe o que é o sopro além metafísica
eu sou tua deusa mutilada a pentear cabelos
de bonecas de espigas de milhos... cai chuva, cai