APETITE CANIBAL
A palavra tem veias por onde corre sangue afiado,
tem asas pra voar além dos sonhos e das maldições,
tem olhos para enxergar no escuro, no vácuo, no nada.
A palavra desnuda, desmata, destila, destrona,
deixa Deus sem palavras,
deixa todo chão esfarelar sem dó nem piedade.
A palavra tem mira precisa e bote imprevisível,
por vezes esquece sua identidade e fica à deriva por séculos,
por vezes assume seu posto de guardiã dos tempos.
A palavra é voraz nas suas andanças,
percebe o vão dos pensamentos e suas mais secretas intenções,
sabe traduzir a alma com o apetite canibal.
A palavra é folguedo, é espera, é paixão, é caixão,
nas suas ancas aguerridas podemos tudo, e muito mais,
nas suas rédeas de aço conseguimos domar a vida,
no seu caminhar firme ecoamos o nosso melhor coração.