Distopia
Naquele dia,
Tão cinza quanto qualquer outro,
O cobrador do ônibus não tinha troco para o carteiro.
O carteiro não entregou a carta de amor redigida pelo datilógrafo.
O datilógrafo emudeceu e, desde então, foi eterno silêncio.
E tudo foi passado...
E nada ficou...
Apenas a saudade.
No teu tempo,
Pequena criança,
Os cirurgiões não mais implantarão cateteres.
Os advogados não mais acusarão ou defenderão réu qualquer.
Os professores não mais explicarão conteúdo algum para a turma indisciplinada.
E tudo será futuro!
E nada ficará!
Somente a saudade.
Mais adiante,
E os átomos de carbono se desencadearão,
Outorgando ao silício os gérmens da vida orgânica.
Um beijo... Um algoritmo.
Um pensamento... Outro algoritmo.
E tudo passará...
E nada ficará...
Nem mesmo a saudade.