Ficção sentífica das relações líquidas derretidas
A sensação , no início, Ed Mort,
Mas, sabemos que, a vida
Meio que
Continua até o fim.
Entre um desses eventos e o evento final, às vezes me arrisco:
saio daquela abóbora, aquela, alaranjada que em outros escritos líamos avermelhar, mas que hoje é só um quarto escuro (o mesmo quarto, com a mesma fresta da mesma janela) com cheiro de gripe e sinusite aparentemente incuráveis, inevitáveis, que você sabe que vai durar algumas semanas de mal estar, com uma tosse lá na terceira semana que vai te lembra que “mais uma gripe dessas e você vai ter que parar de fumar”
Vícios!
Ouço sempre dizer que o “amor”, seja lá do que estejam falando, é um vício.
Eu já acho que vício é a necessidade de se reconhecer na forma como as pessoas te amam, quando ocorre. A busca por uma forma específica que te regresse até o útero.
Abandono, perfeccionismo, perversidade, entrega, narcisismo e lealdade.
E tinha meses já…, 12 quase completos pra ser precisa, de conformidade.
Mas o cérebro humano pensa que não faz parte de um corpo que precisa resistir às pancadas pra continuar sustentando uma vida, que tem uma história, necessidades, carências, desejos e vontades, e como “O Demônio da Perversidade”, te diz pra se atirar àquele profundo e irresistível precipício.
Um mês de ensaios
Saio uma vez
Única
(Único:
estranho e bom
intenso e raso
lindo e nefasto
“perfeitamente estragado” [de outro texto]
perversamente bem intencionado,
Ele)
Eu
Inconsequente
Inseguranças a mil
E o Tipo 1000 a 60/hora na marginal
(Porque ele fez questão???)
Paramos no sinal e ele tocou minha mão quase com alguma intimidade e afetividade
Pensei: “deve ser psicopata, quer saber onde você mora, sua louca, sua irresponsável” tentando desviar da satisfação que senti com aquele gesto, tão simples, tão raro…
“Quero te ver de novo” e sugeriu um convite pra um evento futuro que pretendia ir
(eita!)
“Ah, hummm, pode ser, vamos ver” respondi já com todas as sirenes disparando “é golpe, corra, tape os ouvidos AGORAAAA…”
Mas uma das minhas mãos ele já tinha tratado de ocupar
E seguimos, eu já colocando em prática toda minha repetição de padrões (e mais tarde viria a descobrir, ele também)
Nos despedimos de uma forma leve e descontraída como dois namoradinhos que não precisam falar muito nessa hora porque, já está tudo acertado e logo irão se encontrar de novo (simulando o que podia ter simulado na hora)
Manobrou o carro enquanto eu tive a atenção desviada pelo porteiro que insistia em me entregar uma correspondência diariamente, mas que eu já tinha na forma digital, e eu ali novamente enganando-o que mais tarde pegaria pra concluir logo o assunto e voltar os olhos esforçados pra tentar alcançar o carro que, pela demora, àquela altura já deveria ter partido.
Mas, lá estava ele, indo embora com o carro em marcha lenta, quase parando, olhando pra trás e acenando com a mão
Eu tive mesmo a impressão de que ele estava me esperando pra acenar de volta. (daqueles detalhes ridículos e infantis que a gente se apega, eu sei..)
Confusa mas feliz, acenei de volta.
Mais tarde:
- “Foi ótimo mas, não estou pronto agora…
Amizade??”
- Amizade? Não estou pronta! Mas foi ótimo!
- “entenda, não é você, sou eu”
Entendam, não é sobre ele, mas sobre mim
[mais 12 meses de pausa]
&lis
28/01/23