Abismo
Ela está parada
Encarando um abismo a sua frente
E se perguntando
Qual a melhor hora de pular
Ela não quer incomodar ninguém
Mas não pode mais voltar
Nem ver além
Se pensar bem
Ela nunca teve escolha
Antes mesmo de chegar a sonhar com algo
Esse algo se desfazia em sua boca
E arremessava a verdade em sua cara
Ela nunca teve nada
Nem objetos, nem pessoas e nem sentimentos
Os objetos eram sempre usados
Quebrados, emprestados e não duravam
As pessoas não ficavam muito tempo também
E os sentimentos?
Ela aprendeu a viver sem
Se pensar bem
Ela nunca teve chance
De viver como queria
Atirada a própria sorte
Esbarrou com a poesia
No seu estado mais cruel
Somente a Morte entendia
A morte das palavras que ouvia
Sentia a força de um abraço
No silêncio de um traço de agonia
Procurou um espaço seguro
Nos pensamentos de outro alguém
Se pensar bem
Ela nunca teve casa
Nem alicerces e nem cercas
Nunca teve medo de pular
Mesmo assim
Ela está parada, frente a um abismo
Torcendo para o impossível
Tirá-la de lá