Passividade
Sentei-me e vi o rio da vida passar.
Águas claras.
Águas turvas.
Águas tranquilas.
Águas turbulentas.
Tudo se passou naquele rio.
Eu apenas observei.
Nunca banhei naquelas águas.
Sempre permaneci sentada observando.
Nunca fui um ser ativo.
E na passividade da vida permaneci.
Vendo o passar da existência.
Um dia, porém, entrei naquelas águas, banhei naquele rio.
A correnteza era suave e tranquila.
O rio não me assustava.
As águas eram um antídoto para uma dor incessante.
Entusiasmei-me, entreguei-me aquelas águas,
Mergulhei fundo naquele rio.
Então perdi o chão dos meus pés,
A correnteza tornou-se forte,
Arrastou-me cada vez mais ao abismo.
Uma dor cortante invadiu-me.
O ar dos pulmões ficou rarefeito.
A respiração entrecortada.
Afogava-me.
Naquele momento, a certeza que morreria tornou-se uma verdade.
Todos os membros do meu corpo tornaram-se ativos.
Lutaram por sobrevivência.
E por um milagre,
Por algo maior e inexplicável senti terra firme nos meus pés.
Respirei aliviada o ar calmo da superfície.
Chorando de alegria sentei-me as margens do rio,
E observei as águas passarem.
Feliz voltei, a minha existência passiva.