manuscript invenit Sao Paulo in MDLIV
E os edifícios altos
fortalezas horrendas
tomarão o lugar das casas
e as ruas todas serão dos autocarros
E as máquinas
curiosas armações de ferro e outros materiais
multiplicarão o trabalho
propondo uma nova velocidade
mas isso não lhes proporcionará descanso
ou alegria
Os artefatos
substituindo os homens em diversas atividades
modificarão toda a realidade
a tecnologia não será mais mero extensor de seus corpos
mas possuidora de conhecimento e autonomia
Os dias e as noites serão iguais
viverão todos apartados da natureza e das coisas simples da vida
e procurarão consolo em contendas estúpidas
dividir-se-ão em grupos de diferentes bandeiras
outorgando á outros sua diversão, prazer e autonomia
As canções serão infantis e estúpidas
propondo a satisfação de desejos primários e imediatos
a escatologia imperará
a amnésia será coletiva
os fatos lembrados não terão importância
Os velhos ficarão nas ruas fuçando no descarte em busca de comida
as crianças não serão obrigadas a aprender
e não aprenderão nada por si próprias
serão treinadas em formas diferentes de destruição
e tornar-se-ão frias perante á morte
E á vida será uma sucessão de flashes
um presente contínuo destituído de utopia ou desejo de transformação
como se não houvesse possibilidade de mudança
como se tudo fosse o que aparenta ser
como se tudo fosse como os antigos diziam
Os ambientes serão artificiais
sem luz natural, sem o rumor do vento ou o barulho da chuva
os bichos e as flores servirão aos humanos
como detalhes para satisfação de carências
A religião não merecerá esse nome
e medos infantis de tempos anteriores ao Renascimento retornarão
a Ciência servirá apenas à interesses de grupos privados
que viverão em fortalezas de ferro e aço isolados do resto
isolados de tudo
Passaram os dias e noites encarcerados
sem ver a luz do dia e a luz da noite
assistindo aos eventos selecionados por conglomerados de informação que no próprio interesse de manutenção de poder manipularão os acontecimentos
fazendo bobagens transformarem-se em fatos e verdades
Viverão alheios a si mesmos
sem forças para olharem-se e reconhecerem seu eu profundo e seus outros eus.
A leitura de códigos mágicos será feita por pouquíssimos que serão considerados loucos
ou pior que isso
ninguém lhes dará crédito nenhum
Todos serão vítimas de epidemias variadas
câncer de cólon, vírus de computador, obediência cega
bacilos perturbadores, gripes de pássaros ,incapacidade de relacionar-se com os outros sexualmente,
uniformização de pensamento, robotização de hábitos,
desamor, desintegração de personalidades, ruídos na mente, buracos na alma
vazios intermitentes
e na hora da despedida
dirão satisfeitos:
-Essa foi a vida que eu escolhi!